Protetora acolhe 84 cães em casa e provoca polêmica com vizinhos em Moema, na Zona Sul de SP

Publicado em 20 de agosto de 2017
cachorradaUma protetora animal que já acolheu 84 cães em sua casa, em Moema, na Zona Sul de São Paulo, provoca polêmica com os vizinhos, que se dizem incomodados com o barulho e com o mau cheiro. O Ministério Público acompanha o caso.
Rosângela de Abreu recebeu a reportagem do G1 para contar sua versão da história. “Sou filha única. Quando nasci, acho que minha mãe já percebeu, ‘Ih, essa daí já vai dar problema suficiente”, brincou. “Venho de uma família que sempre adorou animal. Eu tinha um gatinho, que ficava no berço comigo e o cachorro da minha mãe ficava ao lado, vigiando”, contou, enquanto os cachorros de diferentes tamanhos abanavam o rabo e pulavam em cima dela.
“Não vou falar que eu queria ter tantos cachorros aqui. Não gosto de animal preso, mas quero doar e não desovar”, Rosângela de Abreu, árbitra de basquete e protetora animal
Ela apresentou o imóvel, que estava sujo e com cheiro forte. “Os problemas começaram justamente quando eu pretendia reformar a casa”, contou Rosângela, que está com 49 anos e mora com a família na casa adquirida há 75 anos no bairro, quando a “Avenida Iraí era um rio e o Shopping Ibirapuera era um campo de futebol”.
O afeto pelos animais cresceu na adolescência, conforme ela se aproximou de pessoas ligadas à proteção animal, e, anos mais tarde, fundou a ONG Auqimia em Parelheiros, na Zona Sul da cidade. “Aluguei um sítio, onde ficamos por cerca de 13 anos, até que o proprietário pediu o local. A esta altura, eu estava com mais de 100 cães, mas tive que arrumar um outro espaço com urgência” disse.
Era 2015. Rosângela conseguiu outro terreno, mas teve um novo problema. Um homem teria reivindicado o espaço como seu e conseguiu a reintegração de posse da nova área junto a Prefeitura Regional. Ela deixou dezenas de cães na área e se viu obrigada a trazer outros 84 para dentro de sua casa com o objetivo de doar os bichos aos poucos. Após doações, ela reúne 37 cães no imóvel.
A situação se tornou de conhecimento geral no bairro, a vizinhança passou a acreditar que Rosângela tem distúrbios de acumulação, denúncias chegaram ao Ministério Público (MP) e dezenas de animais foram removidos do local.
Porta de vidro
A proprietária de um restaurante vizinho à residência de Rosângela, disse ter feito adaptações no estabelecimento por conta do cheiro. “Tenho muito prejuízo porque os clientes não querem vir aqui, sem contar os gastos com cortina de vento, vidro e toldo nas laterais para tentar diminuir o cheiro forte”, contou.
cachorrada2“São cães que ela pega para cuidar, e imagino que cuide, mas a intenção, que é boa, acaba prejudicando a vizinhança inteira”, proprietário de um comércio
Outros lojistas do bairro também instalaram portas de vidro em seus estabelecimentos e confirmam os relatos. “São cães que ela pega para cuidar, e imagino que cuide, mas a intenção, que é boa, acaba prejudicando a vizinhança inteira”, disse o proprietário de um comércio. “Tenho que deixar as janelas fechadas. Moscas, mosquitos, ratos. Já presenciais várias vezes no telhado”, disse outro.
Após diversas denúncias, cerca de 30 animais foram recolhidos pela ONG União Internacional Protetora dos Animais (UIPA), da qual Rosângela fez parte na juventude. “Pode até ser que ela pegue os animais por motivos nobres, mas submete a uma situação cruel. Você não pode privar o animal de espaço, de segurança, de sol, de alimentação”, afirma Vanice Teixeira Orlandi, presidente da UIPA”
“Disponibilizei o prontuário dos cães para o MP. Relatei que os cachorros estavam desnutridos, todos com sarna e alguns prenhes. Chegaram enlouquecidos de fome na ONG, atacando latinhas de ração dos gatos”, relatou Orlandi.
No Ministério Público, o promotor de Justiça Marcos Stefani assumiu o caso. “Este é um caso antigo. A primeira representação chegou à Promotoria do Meio Ambiente em 2010. Houve um compromisso de ajustamento de conduta, mas chegaram informações de que a prática do recolhimento continuava”, disse o promotor. “Decidi recomendar a remoção total dos animais porque ao longo do tempo ela se demonstrou inábil para exercer a atividade”, continuou.
Questionado sobre o motivo para que a situação se arrastasse por anos, o promotor disse que a situação foge da alçada do MP e entra na área da saúde pública. “As providências devem ser tomadas no âmbito administrativo, na área de saúde pública, do Centro de Zoonoses, sobre o controle de vacinação, sobre o destino final dos resíduos. Está ligado a questões epidemiológicas”, explica.
Feira de adoção
A protetora independente Cláudia Rodrigues soube do caso por meio de uma reportagem, decidiu ajudar Rosângela e garante que o número de animais vem diminuindo. “Realmente, era muito animal dentro da sala, estavam debilitados, mas percebi que tinha muito mais gente julgando do que realmente oferecendo ajuda”, disse.
Cláudia compartilha as fotos dos animais para doação nas redes sociais. “Sou testemunha de que o objetivo da Rosângela é de que os animais tenham uma família. Se ela quisesse acumular, não teria me deixado entrar aqui e divulgar”, completa Cláudia, que além dos 30 cães encaminhados para a UIPA, ajudou a doar outros 21.
“Sou testemunha de que o objetivo da Rosângela é de que os animais tenham uma família. Se ela quisesse acumular, não teria me deixado entrar aqui e divulgar”, Cláudia Rodrigues, protetora animal
A dupla vai colocar alguns dos cães em uma feira de adoção neste fim de semana na Alameda dos Nhambiquaras, 1.197. Os animais disponíveis para a adoção estão vacinados e castrados, e os interessados passam por uma entrevista antes de assinar o Termo de Adoção.
“O que não quero para mim, não quero para os outros. Fico preocupada com os vizinhos, sim. Há noites em que não durmo. Além disso, veja minhas dívidas. Eu podia estar viajando”, disse Rosângela. “Não vou falar que eu queria ter tantos cachorros aqui. Não gosto de animal preso, mas quero doar e não desovar”, completa.
G1
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