‘Sem camisinha, sem lubrificante’: relatos de estupros no Brasil. Estimativa é de 612 mil casos por ano

Publicado em 25 de abril de 2024

O Profissão Repórter desta terça-feira (23) mostrou relatos de mulheres que não conseguiram denunciar estupros. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) indica que, a cada dez casos de estupro de mulheres, apenas um é denunciado à polícia. A estimativa é que o total de estupros de casos no Brasil seja de 612 mil por ano.
‘Se não abrir as pernas, vai doer’
O programa mostrou situações em que os agressores foram ganhando a confiança e, em um segundo momento, cometeram a violência. Foi o caso de uma mulher que conversou com a reportagem.
“Começou tudo dentro de um coletivo (ônibus), há mais ou menos um ano e meio atrás. E, aos poucos, foi conseguindo ganhar a minha confiança. Como ele estava já há tempos me cortejando, aí eu fiquei sabendo que era verdadeira, talvez eu tenha me aberto um pouco. Falei: ‘por que não me dar esse direito de ser feliz uma vez?'”, disse a vítima, que preferiu não se identificar.

 A mulher contou que o homem a convidou para ir a um motel após um primeiro encontro.
“Não foi bom desde o princípio, me jogou na cama, rasgou meu sutiã e, como eu era virgem ainda, senti muita dor. Eu falava para ele: ‘Para, por favor’. E ele falava para mim: ‘Se você não abrir as pernas, vai doer mesmo’. Tudo sem camisinha, sem lubrificante, sem carinho, sem afeto’, sem respeito nenhum”, relatou.
A vítima ainda se culpa pelo trauma. “Eu sei que eu errei. Foi consensual, mas eu não esperava ser tratada dessa maneira”, afirmou.
A advogada que trabalha na defesa de mulheres, Sueli Amoedo, destacou que a mulher não entende que foi vítima de um abuso sexual. Segundo ela, a relação deixa de ser consensual a partir do momento em que a vontade da mulher não é respeitada.
“A partir do momento em que ela falou para ele parar, já não era consensual mais. No momento em que ela fala ‘não quero mais’, ela tem que ser respeitada nisso. E você vê que ela não foi”, afirmou Sueli Amoedo, advogada que trabalha na defesa de mulheres.

A advogada também explicou o que teria levado a própria jovem a optar por não levar o caso à Justiça.
“Como ela estava muito confusa, as pessoas pediram para ela pensar um pouquinho e verificar se era isso mesmo, porque ele era um pai de família, ele trabalhava, ele era casado e ela iria atrapalhar a vida conjugal dele. Aí ela mesma optou por não fazer o boletim de ocorrência”.
‘A gente pensa que nunca vai acontecer’
A reportagem também foi à ONG Recomeçar, em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. A instituição oferece abrigo sigiloso para mulheres em situação de violência e risco iminente de morte, muitas delas vítimas de estupro de seus próprios companheiros.
Sem mostrar o rosto, uma das acolhidas contou que foi estuprada pelo ex-companheiro e que, enquanto estava casada, não conseguia entender que era vítima desse crime grave.
“Se a gente acaba não cedendo, a gente acaba apanhando […] a gente pensa ‘nunca vai acontecer comigo ‘e acaba acontecendo. Está acontecendo e você não está vendo. É depois que você procurar saber mais sobre o assunto que você vê, eu já passei por isso, isso já aconteceu comigo”.

Fotos: Reprodução/TV Globo
G1

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