Sítio onde foi encontrado ‘cemitério’ indígena no AM pode ter outras urnas enterradas, dizem arqueólogos

Publicado em 3 de setembro de 2018

Arqueólogos do Instituto Mamirauá que encontraram cemitério de urnas indígenas em uma comunidade do Amazonas afirmaram que existe a possibilidade de encontrar outros registros arqueológicos no local. Em entrevista ao G1, os especialistas dizem que a equipe já deve iniciar trabalhos de identificação dos materiais encontrados e que o processo de análise das urnas pode durar até dois anos.
O “cemitério” de nove urnas funerárias indígenas foi encontrado em julho na comunidade Tauary, localizada na região central do Amazonas. As urnas estavam enterradas a uma profundidade de 40 centímetros da superfície dentro de uma área de quatro metros quadrados nas imediações de uma escola comunitária. Estima-se que o material possa ter mais de 500 anos.
Segundo os arqueólogos que participaram da pesquisa, é possível que outros materiais sejam encontrados no local. Em 2014, as primeiras urnas funerárias foram encontradas por moradores da comunidade. Quatro anos depois, retornaram para mais investigações sobre a trajetória dos povos indígenas que habitavam a área.
“Com certeza existem outros materiais na área. A gente tá começando agora a conhecer o sítio, tentar delimitar ele tanto na largura quanto na profundidade. Então, sabendo dessa possibilidade, a gente abriu uma unidade de escavação um pouco mais distante das urnas e nessa unidade foi possível, analisando o extrato do solo, ver diferentes camadas de ocupação em momentos distintos. A gente não pode afirmar com toda certeza isso, porque o material precisa ser datado e analisado em laboratório, mas pela escavação a gente pode ter uma ideia do que aconteceu lá e essas diferentes grupos que ocuparam a área”, afirmou a arqueóloga Luisa Vieira.
Para o arqueólogo do Instituto Mamirauá, Eduardo Kazuo, é preciso que haja uma preservação adequada da área para abrir espaço para outros pesquisadores voltarem ao local e iniciarem novas pesquisas.
“A gente acredita que possivelmente possam ter outras lá, infelizmente a gente não tinha nem tempo e equipe e logística para procurar mais urnas, mas muito provavelmente tem mais urnas próximas a essas onde a gente cavou. O que a gente espera é que consigam preservar e esperar até que uma outra equipe de arqueologia possa voltar lá e escavar essas urnas”, disse.

Análise das urnas
A partir de agora, a equipe de pesquisa deve analisar cada uma das nove urnas encontradas na comunidade. O material deve ser estudado por uma equipe de arqueólogos de especialidades diferentes. O trabalho pode durar de um a dois anos, segundo Kazuo.
“O nosso plano é fazer todo o tratamento delas [urnas]. Acho que a primeira coisa que a gente precisa fazer é escavar elas, porque todas elas possuem terra dentro, em algum momento e por alguma razão entrou terra dentro, então a parte dos ossos também tá dentro delas, então a gente escava justamente pra tirar os ossos e qualquer outra coisa que tiver dentro dela. Junto com isso, uma outra parte que a gente faz também é a parte de curadoria da própria cerâmica, então são dois processos básicos para a gente colher o máximo de informação possível, é tentar preservar os ossos e a cerâmica também”, afirmou.
O trabalho é minucioso e, além de envolver vários especialistas, engloba diferentes tipos de descobertas. Vieira explica que essa é a primeira vez que se escava um contexto funerário de urnas tão ricas no Amazonas.
“A gente precisa criar um projeto com um grupo de especialistas pra ser feito com toda a paciência para não perder nenhum tipo de informação que as urnas podem vir a nos dar”, disse.
O conjunto das urnas arqueológicas também se diferencia pela variedade entre tipos e adornos nos acabamentos cerâmicos, como a pintura de cabeças humanas, formas animais e a presença ou ausência de bancos, onde as urnas podiam ser colocadas.
“Interessante é que a gente vai conseguir ver o nível organizacional depois da análise das urnas, fazer a etnografia dos desenhos feitos nelas, e tudo tem uma representatividade, uma simbologia que vão ajudar a gente a coletar esse tipo de informação”, finaliza a pesquisadora Luisa Vieira.
G1

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