Tracunhaém, os Potiguara e a conquista da Parahyba

Publicado em 30 de dezembro de 2017

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Rio Sanhauá (de.Ufpb)

O Rio Tracunhaém, na atual região fronteiriça (PB/PE), foi palco de um interessante acontecimento da história da Paraíba. Ali, índios Potiguara trucidaram um engenho e todos os seus moradores, episódio que ficou conhecido como ‘Massacre de Tracunhaém’ sendo referenciado nos principais livros de História do Brasil e da Paraíba.
Partindo de Olinda, um ‘mameluco aventureiro’ raptou uma cunhã (do Tupi: mulher jovem) de uma aldeia Potiguara tomando-lhe como esposa; aproveitando-se da relação amistosa e comercial entre brancos e aldeias da região da Copaoba (no norte da atual Paraíba). A raptada era Iratembé, filha do chefe indígena, o Ininguassú (çú), que na oportunidade, enviou dois de seus filhos à Olinda para buscar a cunhã. Após expor o fato ao ‘Governante das Terras do Sul’ Antônio Salema (que estava em Olinda), tiveram o pedido atendido e Salema ainda deu provisão aos índios para não serem molestados no caminho. Chegando a Tracunhaém, os três filhos de Ininguaçú pernoitaram no engenho de Diogo Dias, que encantado com a moça, a ocultou de seus irmãos. Mesmo vendo a provisão de Salema, Dias desconversou e os irmãos retornaram à Copaoba, informando o sucedido.
Confiante na negociação, Ininguaçú enviara outros (não se sabe quantos) emissários para o intento, só que Dias dissimulava e envolvia-os com palavras enganosas. Neste momento, Ininguaçú resolve buscar sua filha ‘quebrando a paz’, e para o intento, milhares de índios se deslocaram para Tracunhaém, chegando em plena madrugada, esperando o amanhecer para pegar de assalto os moradores. Horácio de Almeida, em sua História da Paraíba (1978), afirma que este reclame indígena tenha sido fomentado pelos franceses, que por comercializar Pau-Brasil com os Potiguara, temiam o instinto colonizador do português. Aliás, esta é a opinião de historiadores como Irineu Pinto (1909) e Maximiano Machado (1912).
Diogo Dias, que possuía um fortim dentre um cercado de pau a pique, rechaçou um pequeno grupo, saindo para o campo aberto, indo de encontro a uma inúmera quantidade de índios que estavam à espreita, no mato, prontos para dominar a propriedade. Cercado pelos Potiguara, Diogo já não tinha lugar seguro para se abrigar e foi derrotado. Segundo Maximiano Machado, mais de 600 pessoas morreram no enfrentamento, dentre estes, índios domesticados, escravos, parentes e o próprio Diogo Dias; a propriedade foi saqueada e incendiada, ficando um ‘monte de ruínas’ como afirmou Almeida, o que assanhou os indígenas pela fácil e trucidante vitória.
O morticínio assustou a metrópole, que viu a ameaça indígena e francesa sob suas posses, determinando a criação da Capitania Real da Parahyba (no papel) em 1574 sendo determinante para a sua posterior conquista no acordo de paz em 05 de agosto de 1585 entre o capitão João Tavares e o chefe indígena Piragibe numa colina defronte ao rio Sanhauá, marco fundante da Paraíba. Tracunhaém mostrou o poderio nativo, uma resposta incisiva, que mudou os rumos da História do Brasil.
Historiador e Jornalista, Sócio do IHCG e da SPA.

 

Thomas Bruno

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