Tudo é vaidade

Publicado em 8 de agosto de 2016

A Liturgia deste Domingo faz-nos percorrer um itinerário de fé muito interessante e questionador. “Que sentido tem a nossa vida?” Esta interrogação ocupa as mentes e as reflexões de muitas pessoas. De fato, muitos embora tendo uma vida social e economicamente satisfatória, não conseguem sentirem-se felizes. O “vazio” pode ser a origem de várias tristezas e depressões. Cria-se então a ilusão de que para sair deste estado de coisas é suficiente uma espécie de “filosofia” de vida do “viver bem”, ganhar muito dinheiro e desfrutar.
A Palavra de Deus desmascara esta ilusão. O autor do Livro do Eclesiastes, (cf. Ecl 1,2;2.21-23) um sábio de Israel, em seu caderno de anotações interroga-se para que afadigar-se na vida, agitar-se e inquietar-se. A sua sentença é pessimista, irônica e lapidar: “Vaidade das vaidades! Tudo é vaidade” (Ecl 1,2).
Quem de nós já não disse alguma vez esta frase? Normalmente esta é uma verdade que vamos descobrindo à medida que vamos acumulando anos em nossa vida. Enquanto somos jovens e temos sucesso e estamos começando a construir uma família, ou uma empresa, não pensamos que a vida seja vaidade. Mas também é verdade que quase todos nós na caminhada temos nos deparado com algum fracasso. E então fazemos a mesma reflexão que fez o autor do livro do Eclesiastes. Se o ser humano é um ser destinado a morrer, para que serve seu saber, seu trabalho, se não pode vencer o seu destino mortal que nivela-nos todos?
“Um homem que trabalhou com inteligência, competência e sucesso, vê-se obrigado a deixar tudo em herança a outro que em nada colaborou.” (Ecl 2, 21) O sábio fala da inutilidade de qualquer esforço humano. Ele constata o fato de que nenhuma coisa vista em si mesma, está em condições de dar um sentido à vida, mesmo as coisas mais sagradas como o trabalho feito conscienciosamente, a cultura mais profunda ou o sucesso merecido.
A partir da sua própria experiência, ele foi capaz de concluir friamente que os esforços desenvolvidos pela pessoa ao longo da sua vida não servem para nada. Que adianta trabalhar, esforçar-se, preocupar-se em construir algo se teremos, no final, de deixar tudo a outro que nada fez? Então resume a sua frustração e o seu desencanto com o refrão: “Tudo é vaidade!”
Devemos entender que na vida há coisas muito importantes, e coisas menos importantes, e ainda coisas nada importantes. São estas coisas sem importância as que não devemos prestar-lhes demasiada atenção são as que, mais das vezes, podemos qualificá-las de “vaidade”. Só se valoriza em sua justa medida a saúde ou o dinheiro, ou a
amizade, quando não se tem; então é quando vemos que, comparadas com os verdadeiros valores da vida, muitas coisas são simplesmente vaidade. Mas, esta reflexão não deve fazer-nos pessimistas e sim prudentes, sensatos.
A grande lição que o Eclesiastes nos deixa é a demonstração da incapacidade da pessoa, por si só, encontrar uma saída, um sentido para a sua vida. O pessimismo do sábio leva-nos a reconhecer a nossa impotência, o sem sentido de uma vida voltada apenas para o humano e para o material. Constatando que em si mesmo ou por si mesmo a pessoa não pode encontrar o sentido da vida. A reflexão destas palavras força-nos a olhar para o mais além. O Eclesiastes não vai tão longe; mas nós, iluminados pela fé, já podemos concluir: para Deus. Só em Deus e com Deus seremos capazes de encontrar o sentido da vida e preencher a nossa existência.
É preciso, dar a nossa vida o seu verdadeiro sentido e o Apóstolo Paulo vai dizer: “Aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres… Vos revestistes do homem novo, que se renova segundo a imagem do seu Criador.” (cf. Col 3,1-5.9-11). Para ele o cristão é um “homem novo”, libertado de toda forma de cobiça, injustiça e egoísmo, coisas da terra. Na “parábola do homem insensato” (cf. Lc 12,13-21) a mensagem é clara: o rico descrito na parábola é um homem sem juízo. Ele pensa em acumular bens como garantia ou seguro de vida. O rico não descobriu que os bens materiais são relativos e efêmeros e que a única realidade autenticamente consistente é Deus. Aquele homem era rico para si, mas diante de Deus encontrava-se vazio. A sua existência carecia de sentido.
Quem vive para Deus ao invés de dizer como o rico da parábola disse consigo mesmo: “descansa, come, bebe, aproveita!” (Lc 12,19), que revela todo o seu ideal de vida, pois viver para ele, como para tantas pessoas é desfrutar, “curtir” o máximo que puder: não trabalhar, comer, beber, gozar todos os prazeres, ter uma vida cômoda. Pensa mais na lógica do “Reino de Deus” que não é a lógica de quem vive para os bens materiais.
Quem vive na dinâmica do Reino deve ter presente que é uma insensatez colocar o coração, feito para a eternidade, na ânsia de riqueza, de poder e de bem-estar material, porque nem a felicidade nem a vida verdadeiramente humana se fundamentam neles: “A vida de um homem não consiste na abundância de bens”. (Lc 12,15)
Ganância e injustiça sempre andam juntas. Por exemplo, a ganância está na origem da corrupção das pessoas públicas, que não se conformam com o que lhes corresponde, mas intentam aproveitar-se do cargo privilegiado que ocupam. Converte os que deveriam ser servidores da sociedade em corruptos aproveitadores. Inclusive leva-os a apropriar-se do que pertence aos excluídos de nossa sociedade.
É necessário que todos compreendam que crer em Jesus Cristo nos leva a um comportamento ético, a uma ética cristã. É urgente a regeneração ética de nossa sociedade brasileira. Necessitamos mudar, transformar nossa vida, ser homens e mulheres novos, encontrar o novo sentido da vida.
Na sociedade em que nós vivemos é necessária certa quantidade de dinheiro para viver bem, mas, evidentemente, se pode ser muito infeliz ainda que se tenha todo o dinheiro do mundo. A maior parte das pessoas que estão deprimidas ou se suicidam, dizem os estudiosos, não é por falta de dinheiro, mas sim, porque já não encontram sentido para continuar vivendo. É que a felicidade como sabemos é um estado interior da pessoa, não uma circunstância externa à pessoa.
O Papa Francisco, disse, com a espontaneidade que lhe caracteriza, que “o dinheiro é o excremento do diabo, nos faz idólatras, nos corrompe”. E isto nos pode afetar, em maior ou em menor medida, a todos nós.
Acolher a Palavra de Deus neste Domingo é reconhecer esse nosso apego aos bens materiais e nossa sede de poder e ter. A cobiça e a ambição nos cegam, destrói os valores espirituais, e nos levam a sacrificar nos altares do deus dinheiro tudo quanto for preciso. O Senhor nos põe de sobreaviso, pois todos podemos ser vitimas, de um ou de outro modo, desse afã de possuir. O importante é descobrir outro sentido para relacionar-nos e julgar os bens deste mundo.
Que sejamos homens e mulheres novos com os pés firmados nesta realidade do mundo e na desafiante tarefa de criar um mundo novo, mas tendo o olhar e o coração postos acima, no céu, para onde caminhamos com confiança e esperança. Os bens do alto começam nesta vida. As “coisas do alto” indicam os valores da vida nova em Cristo; que nos fazem ser ricos diante de Deus.

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