Oração encontro com Deus e diálogo filial

Publicado em 25 de julho de 2016

A Liturgia deste Domingo nos oferece uma catequese sobre a oração, sua necessidade e importância. A oração cristã é antes de tudo e, sobretudo uma “comunicação pessoal” com Deus, como falam dois amigos de suas coisas ou um filho com seu pai ou mãe dos assuntos familiares.
A Bíblia relata assim os primeiros encontros de Moisés com Deus: “O Senhor falava com Moisés cara a cara, como falava um homem com seu amigo” (Ex 33,11). Também é comovente o diálogo, a oração que Abraão dirige a Deus. Oração toda ela perpassada de temor, confiança, perseverança e certo atrevimento infantil.
Sua oração invoca o perdão divino para os “justos”, mesmo se poucos, que poderão encontrar-se nas cidades pecadoras (cf. Gn 18,20-32). É assim que nós devemos dialogar com Deus que nos atende como “amigo” e que não se aborrece com a insistência, porque está sempre disposto a perdoar, na sua infinita misericórdia.
Mas, o que é a oração? O que significa orar? Quando se deve orar? Como e por que orar? Para entendê-la melhor pensemos que nossa oração se inscreve essencialmente no tipo de relações da pessoa de fé com a “Palavra”, ou de Jesus Cristo, “Palavra encarnada”. Estas relações se realizam de diferentes maneiras: de “conversação”, de “comunicação”, de “encontro” ou de “diálogo” com a ”Palavra”, segundo os casos.
A oração é um “diálogo” pessoal entre o orante e Deus. A “Palavra” de Deus e a “palavra” humana se encontram e se fundem em um mesmo ato: “Deus fala” e o “homem escuta e suplica”.
Logicamente, para que a súplica do orante seja um verdadeiro “diálogo” terá que situar-se no mesmo plano do que Deus disse e quer. Só assim se produzirá um verdadeiro diálogo, a verdadeira oração cristã no pleno sentido da palavra.
A oração cristã supõe “comunhão” de pensamentos, interesses e objetivos de vida, entre Deus e a pessoa. Implica sua “intimidade”, confiança, abrir o coração e coincidências nas “aspirações” primordiais do orante com Deus.
Ao encetarmos tal diálogo, saímos de nós mesmos e abrimo-nos a Deus, tornando-nos sensíveis às necessidades dos irmãos. Ao nosso redor tudo continua na mesma, mas a nossa mente e o nosso coração mudaram radicalmente… a nossa oração foi escutada.
Como Jesus rezava? Ele, como judeu, conservava a tradição do seu povo; amava o templo, frequentava a sinagoga e fazia as orações no ambiente familiar. Sem dúvida, junto a isto, sabemos que Jesus gostava de rezar a sós, durante noites inteiras.
É muito característico de Lucas ter atribuído à oração de Jesus um lugar muito especial no seu Evangelho sendo ele o que mais valorizou este aspecto da identidade cristã e revelou a verdadeira gênese do Pai Nosso (cf. Lc 11,1-13).
Muitas são as vezes que Jesus aparece em oração. São Lucas é o que mais contempla esse aspecto da vida do Mestre e se refere a isso em diversas ocasiões. Jesus é o orante do Pai.
Vendo que Jesus rezava, os discípulos se convenceram de que nunca tinham rezado realmente em sua vida, nasceu-lhes um grande desejo de aprender a rezar: ”Senhor, ensina-nos a orar, como João Batista ensinou também os seus discípulos.” (v.1) e Jesus satisfez este desejo dando-lhes sua própria oração.
Cada um dos sete pedidos do “Pai nosso” é, cada um em si mesmo, um compêndio de teologia cristã. A primeira coisa que nós destacamos é que o Senhor nos ensina a nos dirigirmos a Deus chamando-o de Pai.
A palavra original é “Abba”, de tão difícil tradução, que são Marcos e são Paulo a transmitem tal como ela é. Uma palavra tão cheia de ternura filial e de confiança, tão familiar e simples, quase infantil, que os judeus nunca a empregaram para chamar a Deus.
Recordemos que essa oração que Jesus nos ensina nos diz que Deus é nosso Pai. Não meu nem teu, mas nosso. È certo que as relações que Jesus estabelece entre Deus e a pessoa humana são relações pessoais, de tu para tu.
Mas também é verdade que essas relações passam pelo próximo, até o ponto que se nos esquecemos dos irmãos não podemos chegar até o Pai. Assim, pois, não se pode ser filho de Deus sem ser irmão uns dos outros.
Por isso o chamamos nosso Pai e pedimos o pão nosso de cada dia e que perdoe as nossas ofensas, ao mesmo tempo em que prometemos que também nós, por seu amor, perdoemos aqueles que nos ofenderam.
Como de fato vivemos todos rodeados de tentações, tanto as que nascem dentro de nós mesmos, como as tentações que nos veem do exterior, devemos pedir a Deus que nos dê força para que não caiamos em nenhuma tentação, e que nos livre de todo mal e do maligno.
Certamente, não vou dizer nada de novo, mas creio que é muito importante que, quando rezemos o “Pai nosso”, o meditemos com simplicidade. É a oração principal e a mais repetida da Igreja e não devemos rezá-la nunca maquinalmente, sem meditar cada uma das palavras que dizemos.
As orações que sabemos e recitamos de memória se convertem muitas vezes em orações rotineiras, sem que sinta o coração o que diz os lábios.
Por isso, neste Domingo da Oração do Senhor, devemos fazer o propósito firme não só de rezar, mas sim de meditar cada dia o “Pai Nosso”; isso é o que Cristo fazia e assim ensinou seus discípulos a fazê-lo.
O Pai nosso é a grande escola e oficina de oração do cristão, é o resumo de tudo que há de bom e tudo o que o discípulo pode desejar obter do Pai. O Pai nosso é como um caminho ou um método de oração a ser constantemente trilhado pelos discípulos, que nunca devem se cansar de bater, pedir e procurar.
Depois de ter apresentado o modelo da oração cristã, o Mestre conta a parábola de um amigo inoportuno que não deixa em paz seu amigo, com muita insistência, pede que este lhe empreste três pães. (vv. 5-8) Esta história quer ensinar-nos que a oração só consegue resultados se for perseverante.
Depois lhes põe o exemplo do pai bom, que não será nunca capaz de dar algo mal a seu filho. (vv. 11-12) E a conclusão que saca o mesmo Jesus destes exemplos é: “Se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem”. (v. 13)
E eu creio que isso é o que nós temos que pedir sempre: que o Espírito Santo que habita em nós nos ilumine, guie a nossa oração e nos dê forças para que sejamos capazes de fazer em cada momento a vontade de Deus.
O Espírito Santo é o Espírito de Jesus, por isso, quando temos que discernir cristãmente qual é a vontade de Deus, devemos perguntar-nos como agiu nesse momento Jesus de Nazaré. Para isso temos os evangelhos que nos dizem como atuou Jesus em cada momento concreto. Jesus orava.
Padre José Assis Pereira

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