PEDE PRA SAIR: nunca antes pressionado como na atual gestão, Ruiter Sansão deixou Defesa Civil por conta de “ingerência e perda de autonomia”

O ex-coordenador da Defesa Civil em Campina Grande, Ruiter Sansão, disse que resolveu deixar o cargo em maio deste ano, embora o anúncio só tenha sido feito em outubro, pelo fato de que em todas as gestões que trabalhou “nunca sofri tanto assédio e pressão que prejudicam o objetivo do trabalho” como na atual, do prefeito Bruno Cunha Lima.
Ele disse que a pressão também se estendia aos integrantes de sua equipe, tanto é que cinco deles foram demitidos sem nenhuma consulta prévia à coordenação, e que “nunca sofreu tanta ingerência e perda de autonomia” como aconteceu agora. A decisão de deixar o cargo aconteceu por isso e outros motivos semelhantes “e agora posso assegurar que estou desempregado e tenho que procurar trabalho para manter a família”, comentou.

VAIDADE
Confirmando que a pressão era do tipo ´pede pra sair´, Ruiter Sansão citou o filme O Advogado do Diabo, com o ator Al Pacino no papel do causídico, e mais precisamente a cena final, onde ele se olha no espelho e diz que entre os pecados do homem o que ele mais gosta é a vaidade. “Tem pessoas que gostam do beija-mão, curtir postagens, dar satisfação e participar de eventos. Com isso acaba perdendo o foco principal que é trabalhar. Se for viver de eventos sociais muitos serviços públicos não funcionam”, comentou Sansão.
Ele lembrou que na gestão do então prefeito Veneziano Vital e também na de Romero Rodrigues o objetivo e o foco sempre foi trabalhar, sempre houve autonomia e respeito. Hoje, após deixar o cargo, ele diz lamentar “porque muitos permaneceram na PMCG sob condições que não são dignas de tratar seres humanos”. Sob pressão, ele disse que foi obrigado a gritar alguém, o que nunca havia acontecido em 18 anos de Defesa Civil. “Cheguei em casa envergonhado, disse a minha esposa que iríamos passar aperto mas que não iria permanecer na PMCG”, comentou, dizendo ainda que “não fujo do trabalho. Ruim seria ter meu nome envolvido em situações não corretas”.

RETORNO
Ruiter Sansão deixou uma citação no ar: “quem sabe numa outra gestão eu retorno para Defesa Civil. Com Bruno Cunha Lima não gostaria, não. Desejo sorte a ele”. Embora não seja filiado a nenhum partido e não tenha nenhuma pretensão de ocupar cargo eletivo, o ex-coordenador da Defesa Civil campinense considera importante a existência da política. “Política é fundamental. É preciso ter e debater a cidade de maneira adequada”, disse.
O comunicado de seu afastamento aconteceu em 26 de outubro último. Ao ser perguntado se o prefeito Bruno Cunha Lima não pediu pra ele continuar no cargo, ou falou alguma coisa nesse sentido, Sansão disse que “procurei ele duas vezes. Enviei mensagens avisando que iria sair, mas nunca tive resposta”. E completou: “falou-se tanto em coragem, coragem, coragem…”.
Mesmo afirmando não entender de política, Ruiter fez uma consideração sobre o gestor campinense local: “o grupo dele, com jovens secretários, precisa de maturidade para administrar e aconselhar. Quatro ou cinco secretários prejudicaram a gestão de BCL. Veneziano sempre ouvia Vitalzinho. Romero, além de já experiente, tinha um grupo de pessoas maduras que o cercava. Lucas tem Enivaldo. Se Ivandro fosse vivo, penso que Bruno teria outros números de aprovação e de companhias”, concluiu.

SEM COORDENAÇÃO
O cargo de coordenador da Defesa Civil em Campina Grande continua vago. Mas houve a nomeação de Amanda Karla dos Santos Lino para a gerência do órgão, o que aconteceu antes mesmo da saída de Sansão. Ele, entretanto, garante que essa pessoa nunca deu um dia de expediente, inclusive sua ausência foi notada no recente episódio do shopping Partage, quando agentes da Defesa Civil estiveram no local fazendo uma vistoria por conta da queda de uma placa de vidro e a conseqüente morte de uma mulher.

Por Apolinário Pimentel